25 dezembro 2008

História Antiga

Era uma vez, lá na Judeia, um rei.
Feio bicho, de resto:
Uma cara de burro sem cabresto
E duas grandes tranças.
A gente olhava, reparava, e via
Que naquela figura não havia
Olhos de quem gosta de crianças.
E, na verdade, assim acontecia.
Porque um dia,
O malvado,
Só por ter o poder de quem é rei
Por não ter coração,
Sem mais nem menos,
Mandou matar quantos eram pequenos
Nas cidades e aldeias da Nação.
Mas,
Por acaso ou milagre, aconteceu
Que, num burrinho pela areia fora,
Fugiu
Daquelas mãos de sangue um pequenito
Que o vivo sol da vida acarinhou;
E bastou
Esse palmo de sonho
Para encher este mundo de alegria;
Para crescer, ser Deus;
E meter no inferno o tal das tranças,
Só porque ele não gostava de crianças.

Miguel Torga
Antologia Poética
Coimbra, Ed. do Autor, 1981

01 dezembro 2008

Boas Festas


Boas Festas à tutti quanti.. sem distinção de reino, género, raça, credo, idade, estado de conservação, formosura, presença de espírito, Q.I., grau de presunção, sanidade mental, currículo ou património.
Mas de um modo particular e distintivo:

à São
à das Neves
ao Zé Carioca e ao Peninha
ao burrinho do presépio, que esteve o tempo todo a pensar em comer a vaca
à sujeita que acha que são os outros todos que andam em contra-mão
à auto-estrada A41
ao corpete
a quem andou e não tem para andar
ao Manoel de Oliveira (100 anos é do camandro!)
ao Luiz Pacheco
ao boi Alandelão
ao Senador Pinheiro Machado
ao Alfa Pendular das 6h05m
ao cimento cola
ao Zebriu
às mulheres que usam cinta
aos homens que fumam cigarros sem filtro
aos loucos de Lisboa, que nos fazem duvidar
ao Japão
à Scarlett, pré-produção
a Sigur Rós…nãaaa
ao Rei da Bélgica
ao Peninha (o cantor)
ao Firmino Bernardino
ao brinco do Vitor Batista
ao Garrinchas, que, embora indigno, faz de S. José
à Celestina, que é da Giesta
aos peitos da Sarmento, que são um portento
à solidão
às colchas bordadas a ponto inglês
ao pincel e à brocha
à colher e à talocha
à plaina e ao formão
ao Parque de Avioso
à mulher do Barack Obama, aquela…não sei como se chama
ao “Tanto do meu estado me acho incerto / que em vivo ardor…”
ao licor Beirão
às moças da Guarda Republicana
às singularidades de uma mulher loira
ao Eça
ao Camilo
ao Duda Guenes
ao Ubaldo
e etc.

Se me esqueci de alguém, logo acrescento, se me lembrar….longos dias têm 100 anos.