Mentiras, ora vibrantes ora piedosas, sobre viagens nunca feitas, em universos paralelos e outros locais manhosos e mal iluminados.
12 junho 2010
Apita o combóio
Vai um cristão, na boa, comendo demoradamente as curvas da Nacional 103, rente ao Tâmega e sente que algo não bate certo quando um carreiro de cabras, que bordeja o largo fluvial, pula para a margem contrária servindo-se despudoradamente de uma imponente ponte de cantaria, toda ela volutas e arquivoltas, com ar de ser ainda do tempo da realeza e de ter custado ao tesouro copiosa soma de contos de reis.
Está-se nesta estranheza e, comida outra dúzia de curvas, o mais natural é que não se encontre estacionada no jardim de uma vivenda, uma locomotiva a vapor Henshel Sohn, de 1925, devidamente atrelada do seu vagão da passageiros. Mas encontra-se.
Mau! Se me aparece uma placa a dizer "Tâmega Estação C.F." eu paro para tirar isso a limpo.
E ei-la. Não há como não parar.
Lembro-me então que a Linha de Caminho de Ferro do Corgo, prodígio da engenharia coeva, ligava Chaves à Régua, até que em 1990, o troço Vila Real-Chaves foi desactivado e votado criminosamente ao abandono. Quem se lembra dela, afiança que a viagem era inesquecível.
Tudo acaba então por se explicar:
- a vivenda...aliás, vivendas geminadas, lindíssimas, mais não eram do que a antiga estação do Tâmega, hoje propriedade privada;
- a ponte que serve o carreiro é uma antiga ponte ferroviária;
- e a locomotiva está lá porque o seu lugar é na estação, comme-il-faut.
E ainda bem que está lá, para nos fazer corar de vergonha e lembrar o quão parolos somos: queremos TGVs e não conseguimos sequer manter a merda de um combóio a ir a Chaves.
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1 comentário:
o passo mais longo que a perna
feia :D
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