Todas as quartas feiras, uma mulher banal, vai ter com um homem, ainda mais banal, a um apartamento espartano (melhor dito miserável) num qualquer subúrbio de Londres.
O propósito da visita semanal é um só: sexo. Por isso, parcas palavras são trocadas.
Não se sabe quem são ou como se conheceram. Apenas se sabe da infalibilidade do calendário. Dele vai-se descobrindo aos poucos uma infernal existência pessoal. Dela, nada. Mistério absoluto.
Porém, todas as quartas feiras, dois corpos, que já conheceram melhores dias, cedem aos instintos mais básicos, sem conversa superflua. A ela isso bastava-lhe. A ele, um dia, deixou de bastar, e resolveu segui-la.
Sem ela perceber, descobriu-lhe uma vida corriqueira de dona de casa, com um filho, casada com um taxista gordo, desinteressante entre os desinteressantes.
Numa atracção de mariposa pela luz, o amante (?) interage com o marido enganado, até lhe sugerir, nas entrelinhas de conversas de pub, o estranho caso que a mulher dele mantém consigo.
Logo que descobre que deixou de ser anónima, a dona de casa acabou com as quartas-feiras e escolhe seguir a vidinha no táxi, para felicidade do taxista.
A traços grossos, esta é a história de "Intimidade" (Intimacy) [trailer], filme de Patrice Chéreau, que em 2001 ganhou o Urso de Ouro do Festival de Berlim.
Gerou, na altura, (soube, não me lembro) alguma controvérsia pelas ousadas cenas de sexo explícito (mesmo explícito) e foi comparado ao "Último Tango em Paris.
A crítica feminina zurziu-lhe pela falta de verosimilhança da história: nenhuma mulher se sentiria atraída por aquele sexo, daí que o filme fosse, diziam, uma mera reprodução do estereótipo da fantasia masculina.
Porém, o ele ir atrás dela deita por terra a típica imagem de macho, reconhecidamente pouco dada a conversas nesse departamento.
No entanto, quando vi o filme, há uns anos, confesso que fiquei na dúvida: fantasia ou a arte imitando a vida?
Hoje, porém, não tenho dúvidas. A conversa é inevitável, logo, a história é plausível.
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