30 outubro 2007

Cavalgaduras

Ficou-me, de um qualquer livro de leitura da minha escola primária, um texto (nada de grande rolls royce mas para mim delicioso), em que o autor recordava as peripécias do seu exame da 4ª classe, ocorrido quando os exames eram a valer. A dado passo recordava que apesar do pavor, tudo correra muito bem e que até fulano ( não lembro o nome,mas era o menos favorecido das ideias), se safara com um suf, apesar de ter respondido que o feminino de cavalo era cavalgadura.
Ainda hoje me rio quando lembro a primeira vez que o li.
Tenho por certeza firme que o género humano é composto por um razoável número de cavalgaduras. Mais até do que a conta.
Por fatalidade estatística, é de esperar, por isso, que ao longo da vida topemos com muito gado cavalar, do tipo bípede. Não seria por aí que viria o desgosto.
Porém, ultimamente, ou eu cheiro a cevada ou estou metido num rodeo. É que tudo que é cavalo me vem relinchar aos ouvidos.
Arre, égua!

29 outubro 2007

Release me

"Release me" - Oh Laura

Campismo e caravanismo


Nunca tinha feito campismo. Nem caravanismo, que sendo mais sofisticado, no final vai dar ao mesmo. Tinha isso como uma grave lacuna e, parodoxalmente, quase que sentia saudades de viver "on the road", com o livro de Kerouac à cabeceira.
A experiência supera as expectativas. A liberdade de andar pelo prazer de andar e de ficar só para ver "como será isto aqui amanhã ao nascer do sol", toma-nos conta dos sentidos, de forma avassaladora. Mesmo tendo que tomar banhos sumários para poupar àgua e catar lenha para aquecer a marmita, em preparos de Circo Chen.
Sábios são os ciganos, na sua milenar resistência à sedentarização. Eles há muito perceberam que quanto mais se vê, mais fica por ver.

26 outubro 2007

Da percepção das barbas de Che Guevara


Há um par de meses fui a um jantar. Daqueles em que se comemora o início ou o fim de qualquer coisa.
A função prometia ser a habitual estucha e lá fui, preparado para engolir rapidamente o bacalhau com natas e zarpar à primeira oportunidade socialmente correcta.
Sucede que na hora do assentamento, as boas fadas fizeram calhar-me num lugar catita à mesa. Rodeado de gente mais ou menos conhecida, exímia no uso do verbo, a conversa fluiu ligeira e espirituosa, sempre com interesse sucessivamente renovado, proporcionando-me a descoberta de algumas qualidades escondidas nos interlocutores. Além das evidentes, é claro, que já de si eram muitas. Era o prazer da conversa (que cultivo com fervor) em todo o seu esplendor.
A páginas tantas, a propósito já não sei de quê, fiz uma inocente referência às barbas de Che Guevara. As representantes femininas (que à mesa eram a esmagadora e agradável maioria) olharam-me como se tivesse acabado de negar o dogma da infalibilidade do Papa: "Quais barbas? Que disparate! O Che Guevera não tinha barba".
Perplexo, em minha defesa, invoquei o auxilio e a cumplicidade do outro homem da mesa, que, finório, farto de saber que sim mas não querendo ficar mal visto na plateia feminina, mandou às malvas a solidariedade de género e apenas me concedeu que "el comandante" provavelmente (não era certo) apenas teria ostentado uma muito ligeira e imberbe penugem.
De nada me valeu esgrimir as minhas razões de ciência ou invocar os barbudos da Sierra Maestra. Irredutíveis se mantinham: que não, Che não tinha barba.
Vi-me, de repente, metido num episódio de Seinfeld e, à roda da barba e da boina do médico e comunista argentino, a conversa rumou patamares de erudição nunca antes alcançados e terminou a discutir Proust, às 4 da manhã, com argumentações temerárias de quem, como eu, da obra apenas lhe conhece uma citação. Difícil foi vir embora.
A contenda da barba terminou empatada no compromisso de que Guevara terá usado barba, mas antes de ter barba... não a tinha.
Fui cavalheiro e aceitei, sem ter usado o às de trunfo. Podia ter dito que antes de ter barba, Che Guevara, era apenas o Ernesto.
Gostei do empate. Pela perspectiva de que a conversa não ficou encerrada e continuará na melhor oportunidade, que, para mim já tarda.
Estando tão massificado o ícone do revolucionário do sec. XX, não é possível ignorá-lo. Mas o que é fascinante é que, mesmo das coisas óbvias, cada um tem um visão pessoal e diferente, sublinhando determinados detalhes em detrimento de outros. Ainda bem!
Barbudos que ostentais o pêlo com galhardia, é provável que ainda ninguém tenha reparado na vossa barba.
As evidências não carecem de demonstração? Vamos conversar sobre o assunto?.
PS: Já agora, assim de repente e sem olhar, Che Guevara tinha ou não tinha barba?

22 outubro 2007

O lugar do morto


"Álvaro Serpa, jornalista, assiste por acaso ao suicídio de um engenheiro, na sequência de uma discussão com a amante. Fascinado pelo ar misterioso dessa mulher, o jornalista não a cita nos autos de declaração à polícia procurando conhecê-la melhor. Acaba por ser vitimado no decurso das suas investigações."
"O Lugar do Morto", para quem não se lembra ou não é desse tempo, é um filme português de 1984, realizado por António Pedro Vasconcelos, que antes de se tornar o benfiquista oficial, fazia filmes.
Foi na altura um dos maiores sucessos de bilheteira, rivalizando, taco a taco com os habituais filmes de Hollywood.
Parte desse sucesso deveu-se à surpresa. O povo estava habituado a que em Portugal, as fitas fossem verdadeiros pastelões, excesivamente banais ou, então, excessivamente afectados por tiques pretensiosos da arte para a minoria das minorias.
De repente aparece um filme português que, estranhamente, tinha um argumento, ainda por cima, recheado de encontros ocasionais, coincidências sem explicação, ambiguidade erótica e... morte, e a malta ficou parva e agradecida.
Ele era uma sucessão de bares, hoteis, combóios, redacções de jornais e interiores de automóveis. Foi o "ovo de Colombo". Foi como perceber que a vida não tem que ser forçosamente comprida e chata, como eram os filmes lusos da época.
O "lugar do morto" é também a designação popular para o lugar da frente de um automóvel, ao lado do condutor. Com toda a propriedade, sublinhe-se.
Veio-me à memória "O lugar do morto", neste fim de semana. Também daí se vê a estrada de uma maneira diferente.

21 outubro 2007

Anita, que vais à fonte

Poderia lembrar-me de dezenas de "argumentos" para sustentar a defesa da tese anterior.
E nem precisava de recorrer ao cinema ou a rostos conhecidos, pois algumas (benditas sejam) cruzam o nosso pequeno quotidiano. Não precisam ser particularmente exuberantes ou cumprir à risca os cânones estéticos. Basta um punhado de detalhes, um "je ne sais quoi", para nos alumiar o caminho.
Mas, não obstante, lembrei-me de um dos mais eloquentes: Anita Ekberg na Fonte de Trevi [ver aqui].
É tão eloquente, mas tão eloquente no suporte à minha argumentação, que não é de admirar que Mastroianni, fartinho de saber que vai como boi para o matadouro, mesmo assim, entre pela fonte adentro sem olhar para trás.
Eu, que nunca fui sequer a Roma, é como se lá estivesse.

18 outubro 2007

E a Deborah? Kerr um beijo até à eternidade?

Morreu!
Certas mulheres não deviam morrer. Nem envelhecer sequer.
Porquê? Porque dão bons ares, arejam a nossa existência. Tiram o mofo.
No início da sua carreira, Deborah Kerr era conhecida como a "virgem inglesa", pelos seus recorrentes papeis de dama pudica e incorrupta (e, diga-se, interessante como uma lobotomia).
Tudo mudou com o clássico "Até à eternidade". Representou a adúltera Mrs. Holmes, ardente e enigmática, que numa cena antológica (ver aqui) , com o mar a fazer chuáaaaa, ferra no Burt Lancaster o beijo de uma vida.
Burt, onde quer que esteja, passados 54 anos, ainda hoje deve estar a lamber os beiços.
Macho que é macho e nunca replicou ou sonhou com cenário semelhante, precisa de mandar reavaliar a sua macheza.
Porque será que as adúlteras são tão fascinantes?
Nunca ganhou o Oscar. Ou seja, quem perdeu foi o Oscar.

17 outubro 2007

Taur Matan Ruak


Lê-se nos jornais de hoje que o general José Maria de Vasconcelos vai ser reconduzido como Chefe do Estado Maior General das Forças de Defesa de Timor-Leste.
Não é uma notícia interessante, mas é o introito ideal para uma reflexão. Inútil, mas, ainda assim, uma reflexão.
Apesar da ausência de evidências científicas, suspeito que existe um determinismo onomástico. Trocado por miúdos: será que aquilo que somos depende do nome com nos ferram à nascença?
A crer nalguns indícios, palpita-me que sim.
Os brasileiros são um povo alegre e criativo porque, na feliz hora, se esforçam denodadamente por encontrar para os seus filhos aqueles nomes do arco da velha.
Os petizes Deivison, Leydjane, Neudemir, Daiana e Edcarlos, crescendo, só podem tornar-se uns tipos divertidos e amigos da borga. Não têm alternativa. Ficou escrito que assim seria no momento em que o assento de nascimento foi lavrado. O nome marcou o destino.
E não é possível mudar o destino? É. Basta escolher outro nome.
É aqui que entra o exemplo do general José Maria.
O seu nome, apesar de simpático, é bucólico e mais propício uma vida reservada. Seria talvez um competente funileiro ou amanuense da Câmara. Nunca, mas nunca, conseguiria ser um guerrilheiro nas montanhas de Lorosae. Conseguem imaginar? Jose Maria, guerrilheiro.Não bate a bota com a perdigota, pois não?
Agora experimentem: Taur Matan Ruak, guerrilheiro.Tudo, de repente, se harmoniza.
O, agora general, José Maria mudou o seu destino, quando, no café, se virou para os seus amigos e sentenciou: - A partir de hoje, chamem-me Taur Matan Ruak!
Não sei se levou muito tempo a escolher, mas acertou em cheio, caramba Sinceramente, digo com inveja, é um nome que eu me desunharia para ter. Ainda não ouvi outro com mais pinta.
Vou mudar o meu: a partir de hoje chamem-me Jalvar Grom Kur...nãaaa....Trim Jord Palter...nãaa. Eu gostava era de Taur Matan Ruak.
Ok, para já fica como está. Não se pode ser displicente com o destino.
Mas não descansarei até achar o adequado.

16 outubro 2007

Eu andei de Lambretta.


O meu pai tinha uma Lambretta.

Não dessas máquinas modernas e insossas de agora, mas Lambretta, pura e dura, com 2 selins à maneira. Tudo muito anos 60, "comme il-faut".

Por isso, eu andei de Lambretta.

Lembro-me vividamente da sensação de "andar de Lambretta" na idade da inocência. De pé, na plataforma, esguio e franzino, fui descobrindo o meu pequenino mundo de então, com o vento na cara e os cabelos permanentemente desalinhados.

Um dia a Lambretta parou e ficou para sempre imóvel, durante anos no mesmo sítio, a apodrecer por falta de resguardo do rigor dos elementos.

Mesmo parada, não cessei de a cavalgar, por montes e vales, com miúdas na garupa, fazendo vruuummm, deitado nas curvas em equilibrismos temerários e arrepiantes, sempre sem capacete, para melhor aproveitar os benefícios do vento nos cabelos.

Até que um dia, alguém a levou por uns trocados, para desatravancar.

Tenho pena de não ter crescido suficientemente rápido, para poder tomá-la do meu pai. E, de certeza, ser eu a deixá-la apodrecer, no sítio onde sempre esteve.

Calhando, um dia terei que comprar uma Lambretta, daquelas à maneira, com 2 selins, para deixá-la encostada num sítio de onde nunca deveria ter saído.

07 outubro 2007

Rocket Man



O Homem-Bala



O desafio: Um fino cabo de 1 538 m liga 2 montanhas sagradas, sobrevoando o vale, entre Lamelas e Bustelo, a 150 m de altura. Pasmem mortais! é o maior slide do mundo. Os bravos (cof...cof) deslizam por ele, sem rede, a 130km/h. São vertiginosos torpedos humanos. É no Pena Aventura Park.

É um pássaro? É um avião? É o Space Shuttle? É um meteorito? Nãooo.....é o intrépido Rocket Man.

04 outubro 2007

Erguer o órgão.....ehehe...

Durão Barroso reclama o seu lugar na história do marxismo-leninismo... por engano.
Caramba, eu deveria ter feito o mesmo.