O meu pai tinha uma Lambretta.
Não dessas máquinas modernas e insossas de agora, mas Lambretta, pura e dura, com 2 selins à maneira. Tudo muito anos 60, "comme il-faut".
Por isso, eu andei de Lambretta.
Lembro-me vividamente da sensação de "andar de Lambretta" na idade da inocência. De pé, na plataforma, esguio e franzino, fui descobrindo o meu pequenino mundo de então, com o vento na cara e os cabelos permanentemente desalinhados.
Um dia a Lambretta parou e ficou para sempre imóvel, durante anos no mesmo sítio, a apodrecer por falta de resguardo do rigor dos elementos.
Mesmo parada, não cessei de a cavalgar, por montes e vales, com miúdas na garupa, fazendo vruuummm, deitado nas curvas em equilibrismos temerários e arrepiantes, sempre sem capacete, para melhor aproveitar os benefícios do vento nos cabelos.
Até que um dia, alguém a levou por uns trocados, para desatravancar.
Tenho pena de não ter crescido suficientemente rápido, para poder tomá-la do meu pai. E, de certeza, ser eu a deixá-la apodrecer, no sítio onde sempre esteve.
Calhando, um dia terei que comprar uma Lambretta, daquelas à maneira, com 2 selins, para deixá-la encostada num sítio de onde nunca deveria ter saído.
1 comentário:
- Eu andei de Simca Chambord.
- E daí?
- E daí, o quê?
- O resto da história.
= Bom... o resto é tudo igual.
- Igual a quê?
- Igual ao do post, uai.
- Hã... entendi.
- Entendeu nada.
- Por quê não entendi? O que há para entender?
- Ora, é uma bela história.
- Qual?
- Ambas. Elas não são iguais?!!! Ora bolas. Fui.
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